sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Melhores do ano 2013

Seguindo a tradição, post dedicado aos melhores discos do ano. Em 2013 tentei acompanhar todos os lançamentos que me interessavam, então escutei bastante coisa, e musicalmente foi um ano bom.

Segue o top 30:

01 - Veronica Falls - Waiting for Something to Happen
O Belle and Sebastian que escuta The Jesus and Mary Chain. Os herdeiros post-punk do Velvet Underground. Bateria sem ton tons, como tem que ser, guitarrinhas com reverb em amps Fender e um rock despretensioso que escutei muito em 2013.



02 - Mazzy Star - Seasons of Your Day
A beleza e a voz da Hope Sandoval continuam a mesma, as músicas do Mazzy Star continuam as mesmas. Alguma coisa é bonita e segura nesse mundo.

03 - Jonathan Wilson - Fanfare
Filhotinho de Neil Young que manja de fazer guitarras com especificações vintage e toca muito. Aula de música americana.

Aulinha do tio Jonathan:



04 - Yo La Tengo - Fade
O Yo La Tengo virou banda experiente, na verdade mais sobrevivente. Fade tem essa calma dos veteranos, celebrando ainda estarem por aqui. E ohm é uma das melhores músicas deles desde sempre, além de me lembrar o Wino, o gato aqui de casa que foi embora em janeiro de 2013 e nunca mais apareceu.

Volta, Wino!



05 - Camera Obscura - Desire Lines
Inicialmente subestimados por serem considerados um sub-Belle and Sebastian e agora subestimados fora da sombra dos clichês do twee pop. Melodias bonitas, vocais doces, de vez em quando uma tristezinha, mas sempre iluminado.


06 - Billy Bragg - Tooth and Nail



07 - Charles Bradley - Victim of Love
08 - Elvis Costello And The Roots - Wise Up Ghost And Other Songs
Só no groove!

09 - Rod Stewart - Time
10 - Laura Veirs - Warp & Weft

11 - The Head and The Heart - Let's Be Still
12 - Bill Callahan - Dream River
13 - Scout Niblett - It's up to Emma
14 - Torres - Torres
15 - David Bowie - The Next Day

16 - Dawes - Stories Don't End
17 - Nick Cave and The Bad Seeds - Push The Sky Away
18 - Low - The Invisible Way
19 - Booker T. Jones - Sound The Alarm
20 - Mavis Staples - One true vine

21 - Mark Lanegan - Imitations
22 - Lux Interna - There Is Light In The Body, There Is Blood In The Sun
23 - Deerhunter - Monomania
24 - Danny and The Champions of the World - Stay True
25 - The National - Trouble Will Find Me

26 - Valerie June - Pushin' Against A Stone
27 - Black Rebel Motorcycle Club - Specter at the Feast
28 - The Sorry Shop - Mnemonic syncretism
29 - Josephine Foster - I'm a dreamer
30 - Poltergeist - Your mind is a box


E todo ano tem um disco do ano anterior que a gente descobre tardiamente, ou ele cresce após mais audições. Em 2013 foi o Sweet heart sweet light, do Spiritualized. Também teve bastante Morphine, The Jesus and Mary Chain e Buena Vista Social Club.

domingo, 19 de maio de 2013

Futebol com chuteiras pretas

Hoje é final da Tchêmpions, a série B do Campeonato Gaúcho de Futebol, a segunda divisão do popular Gauchão.

E em tempos de chuteiras coloridas e futebol dramático bailarino, nada mais anti-futebol moderno do que um São Paulo de Rio Grande vs Brasil de Pelotas pela divisão de acesso do Gauchão. É futebol de chuteira preta, sem moicanos e jogadores com nome no diminutivo.

E isso é futebol.

Inter x Caxias, Gauchão 2013 - Imagina o Neymar aí no meio? Não teria como, né.


E isso é futebol! Esporte em que um carrinho salvador pode ser mais bonito que um gol e é mais honroso levar o gol do que cavar falta. Aliás, quem cava falta deveria ser expulso. O melhor pro futebol é seguir o  jogo, contra todas as adversidades - metáfora para a vida. Por isso alguns são Messi e Celso Roth e outros são Denílson, Neymar e Joel Santana.



Futbol Uruguayo en su máxima expresión



Sempre detestei o Brasil de Pelotas. Pra mim são legião: Grêmio, Corinthians, CBF... o inimigo. Mas há que se admitir que é um time que tem mais torcida que muito clube de série A do Campeonato Brasileiro. É adversário à altura pro São Paulo de Rio Grande.

E a cidade de Rio Grande hoje respira futebol. Os ingressos para a decisão estão esgotados desde ontem. Felizmente a partida será transmitida para a zona sul do estado em televisão aberta - e pro resto do estado via TVCom, que tem link pra quem quiser ver pela internet.

Em uma das minhas viagens na infância, pelo interior do Rio Grande do Sul, vários vizinhos de banco de ônibus acharam que eu tinha cara de bom papo (e eu não tinha, só queria ler, malditos conversadores!). Uma dessas conversas foi com uma simpática senhora, que ao saber que eu gostava de futebol me disse ser a mãe do Badico, atacante histórico do São Paulo de Rio Grande. Ela me confidenciou que o Flamengo estava interessado em comprar o passe dele, o que nunca aconteceu. E foi melhor assim. Anteriormente, quando o Flamengo jogou contra o São Paulo não conseguiu ganhar.

Nem Zico não ganhou do São Paulo no Aldo Dapuzzo
Não vai ser o Brasil de Pelotas que vai fazer o crime

Que hoje as estrelas de Badico, Ernesto Guedes, Motor, Astronauta e Paulo Barroco, entre tantos outros, iluminem Aylon, Teco, Sapata & cia. Tá na hora de subir, São Paulo! 





EDIT:

É CAMPEÃO!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Revenge

Em tempos de Taylor Swift, Jonas Brothers e vários outros artistas de plástico, que cantam com sorriso no rosto sobre temas amenos - mais inofensivos que uma borboleta cor de rosa, é bom lembrar de quando cantores não tinham assessoria de imprensa e podiam ser perigosos, ou no mínimo humanos.





Mas, enquanto houver força em meu peito
Eu nao quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar
Ela há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar






How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?




Lupicínio Rodrigues (1914-1974) escreveu Vingança em 1951.
Like a Rolling Stone, de Robert Allen Zimmerman (1941), foi lançada em 1965.

Não acredito que um tenha escutado o trabalho do outro, no máximo alguém mostrou Vingança para o Bob Dylan muito tempo depois. A coincidência é produto da temática universal das duas canções e da genialidade dos dois compositores, lendo bem o seu tempo.

Nós apreciamos, vingados.



PS: Ainda tem gente que faz música sobre retribuir o tapa, as coisas não estão tão ruins.


PPS: E o sistema segue na luta pra incorporar todas as manifestações perigosas e transformar em algo palatável para o grande público. Aqui temos o negão cantando "fuck you!" transformado em loirinha que nunca desafinou na vida (com autotune) cantando "forget you". É foda!


domingo, 28 de abril de 2013

Você gostaria de ter um direito tratado como uma enquete?


O Clube dos Outsiders quer saber a opinião dos leitores e ampliar o debate sobre esse assunto tão polêmico que é o casamento entre evangélicos.

E você, é a favor do casamento de evangélicos?


Algumas opiniões coletadas na parada do ônibus, em Rio Grande - RS:

Dona Márcia, 38 anos, diarista: "Não. Eles podem influenciar os filhos a serem evangélicos."

Seu Jonas, 43 anos, comerciário: "Não. Eu amo os evangélicos, mas não concordo com suas práticas."

Daniele, 22 anos, auxiliar de escritório: "Sim. Desde que não possam adotar."

Lucas, 18 anos, estudante: "Sim. Desde que não seja comigo."

Jeremias José, 28 anos, cabeleireiro: "Não. Ninguém nasce evangélico. O evangelismo é uma escolha."


Participe você também! Vote (a enquete tá na coluna da direita, é só clicar) e comente!






Pra entender:
http://g1.globo.com/brasil/enquete/voce-e-favor-da-uniao-gay.html 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Pessoa. The man

Será que Eddie Vedder é leitor de Fernando Pessoa?


Existem algumas pistas que provam que o português considerado o melhor poeta de todos os tempos pelo ILYPE (Instituto Luiz Young de Poesias Espetaculares - se lê ai lipe) tem influência na obra musical de Eddie Vedder & cia.


Vejamos esse pequeno trecho da letra de I am mine:

I know I was born and I know that I'll die
The in between is mine
I am mine

Numa tradução livre, seria algo tipo:
Eu sei que nasci e sei que morrerei
O entre isso é meu
Eu sou meu


Agora vamos ler um trecho do poema Se depois de eu morrer, de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa:


Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, 
Não há nada mais simples
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte. 
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.
(...)


Mas não é só isso!

Fernando Pessoa (1888 - 1935)

Modas vem e vão, canta o moço simpático da Bidê ou Balde. E o visual de Fernando António Nogueira Pessoa não esconde que o escritor que curtia um absinto tava por dentro do trend da época, seguindo o dress code de poeta torturado, com bigode, óculos e chapéu - como é sério o homem atrás dos óculos e do bigode (ops, esse é outro!).

Eddie Vedder, que não consegue esconder que é fã do portuga, entrega isso no outfit despojado de cantor de rock, com chapéu, óculos na mão (poser!), barba e segurando uma bebidinha (que não é absinto, poser²!).

Cosplay de Fernando Pessoa sem o absinto. Shame on you, Eddie!

Além disso, Eddie Vedder de uns tempos pra cá só quer saber de tocar ukulele. Até lançou um disco inteiro só tocando uke. Pois bem, o tal ukulele é um instrumento de corda que tem origem no século XIX, com uns portuga que levaram braguinhas (o cavaquinho dos Joaquim e Manuel) para o Havaí. Ou seja, quando Eddie Vedder está tocando ukulele, na verdade está tocando música portuguesa atualizada, homenageando Fernando Pessoa. Se bobear o próximo disco dele vai ser só de fados, com participação de Madredeus.


quinta-feira, 4 de abril de 2013

Wasteland III




T.S. Eliot (1888–1965).  The Waste Land.  1922.


I. THE BURIAL OF THE DEAD

APRIL is the cruellest month, breeding
Lilacs out of the dead land, mixing
Memory and desire, stirring
Dull roots with spring rain.
Winter kept us warm, covering        
Earth in forgetful snow, feeding
A little life with dried tubers.
Summer surprised us, coming over the Starnbergersee
With a shower of rain; we stopped in the colonnade,
And went on in sunlight, into the Hofgarten,
And drank coffee, and talked for an hour.
Bin gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
And when we were children, staying at the archduke’s,
My cousin’s, he took me out on a sled,
And I was frightened. He said, Marie,
Marie, hold on tight. And down we went.
In the mountains, there you feel free.
I read, much of the night, and go south in the winter.

What are the roots that clutch, what branches grow
Out of this stony rubbish? Son of man,
You cannot say, or guess, for you know only
A heap of broken images, where the sun beats,
And the dead tree gives no shelter, the cricket no relief,
And the dry stone no sound of water. Only
There is shadow under this red rock,
(Come in under the shadow of this red rock),
And I will show you something different from either
Your shadow at morning striding behind you
Or your shadow at evening rising to meet you;
I will show you fear in a handful of dust.



Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos agasalhava, envolvendo
A terra em neve deslembrada, nutrindo
Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
O verão; nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee
Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos
E ao sol caminhamos pelas aleias de Hofgarten,
Tomamos café, e por uma hora conversamos.
Big gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,
Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.
E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,
Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.
Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.
Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.
Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam,
nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto

De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.

(Trecho de “Terra Desolada”, tradução de Ivan Junqueira)

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Poema nos meus 43 anos


Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida —
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter
um quarto.

… de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi…

e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos.

(Charles Bukowski)